segunda-feira, 3 de agosto de 2009

A Assassina e o Cavaleiro - 6º O contrato

- Não sou tão inocente quanto pensa. Não sabe do que sou capaz de fazer para me manter no anonimato. – suas próprias palavras a fizeram lembrar de tantas vezes em que teve de matar pessoas que lhe dava informações preciosas. Tentando manter uma voz firme, começou tentando fugir dessas lembranças – Minhas ultimas missões foram anormais, totalmente fora de meus padrões.

- Não há nada de normal sair matando pessoas.

- Se você soubesse o que eles fizeram... O sujeito que matei na segunda-feira era capaz de fazer qualquer coisa para conseguir o que queria. Matar uma pessoa apenas para ter alguns instantes de entorpecimento é muito vil. – parou um pouco para tomar fôlego – Não gostei nada de matar o segundo da lista com um rifle. Não faz o meu estilo matar sem olhar bem nos olhos e ver se é mesmo quem devo matar.

- Tudo por receio de não receber o dinheiro de seu contratante?

Ela o olhou com um olhar magoado, esperava que ele a ouvisse sem condená-la, mas ao que parece havia se enganado.

- Talvez não tenha sido uma boa idéia trazê-lo aqui, eu apenas achei que pudesse... – suas palavras morreram em sua garganta, quando sentiu que o choro que tentava conter lhe embargava a voz.

Kamus percebeu que sua atitude agressiva não estava apenas ofendendo uma assassina, mas também magoando uma menina. Uma garota que aos poucos estava aprendendo a gostar

- Espere, me desculpe eu não quis magoá-la, continue por favor.

Pegando a garrafa de Whisky bebeu no gargalo sem querer dar vazão a sua tristeza. Achou que a melhor coisa a se fazer seria prosseguir com a narração, e ai quem sabe alem dele compreender, ajudaria a cumprir sua missão:

- O outro que traficava órgãos... Aquele homem teve o que merecia. Foi lamentável ter que matar os outros que estavam escondidos, mas eu tive que tomar uma atitude pra não estar no lugar deles. Era para ser a coisa mais fácil que já fiz, matava ele quando estivesse esperando o comprador, e saia dali sem ter que enfrentar aquele tiroteio todo.

Kamus sobressaltou-se ao pensar na hipótese de que esse tivesse sido um caso corriqueiro na profissão dela, e que Sasha teve sorte até aquele momento. Tentando não mostrar a raiva que subiu a sua cabeça só de pensar na possibilidade de perdê-la a qualquer momento disse com voz controlada:

- Então concorda que corre riscos nesta profissão? – ela fez um gesto displicente, e isso fez a paciência de Kamus ir pro espaço – Quem é você para agir como júri, juiz e carrasco?

- Acha que não estudo os casos nas fichas que recebo? Nunca pego um serviço que seja necessário matar uma pessoa inocente... Embora desta vez não tenha recebido as fichas. – ela remexeu-se no sofá e continuou. – Mas isso não importa, pesquisei o máximo possível antes de executar a missão. Se você visse o terceiro, me daria toda razão de fazer o que faço. Aquele homem asqueroso... Como soube por informações que ele gostava de aliciar jovens, disfarcei-me de garota que fugiu de casa com uma mochila nas costas e um patinete nos pés. Ele mordeu a isca me levando para um motel e...

- Você o quê? – Kamus perguntou quase se engasgando com o Whisky.

- Não fiz nada disso que você ta pensando. Cheguei lá, e quando ele tentou me tocar... Foi a primeira vez que quase senti prazer em usar meu fio de nylon em alguém. – respirou fundo com um certo prazer – Mas o corpo dele está tão bem escondido que só deve ser encontrado daqui a uns cinco ou seis anos. Foi difícil fazer isso, mas valeu a pena.

Kamus encheu o copo novamente e perguntou com desgosto:

- E onde se encaixa o dono da boate?

O olhar de Sasha mudou drasticamente de um satisfeito para um infeliz. Sua voz soou embargada pelas lembranças:

- Nunca me envolvi com quem devo matar... Só que acabei conhecendo Nikolas.

- E como sempre, fez tudo ficar mais fácil depois que seduziu a vitima.

Dessa vez Sasha não resistiu a ofensa, desferiu outro tapa, que foi contido facilmente.

- Seu porco! Solte-me agora.

- Não enquanto não se controlar.

Ela se debatia querendo se soltar. Era impossível. Kamus a segurava pelos pulsos com firmeza. No meio dessa tentativa frustrada de se soltar, ela derrubou a garrafa de Whisky e o copo que caíram no chão produzindo um barulho que ecoava pelos cômodos do apartamento. Não adiantava espernear ou xingá-lo que não a soltava de forma nenhuma. Kamus chegou até a sorrir daquela cena pouco digna de uma mulher. Se queria rir de sua indignação, seria sua vez de provocar um riso para si própria. Deu uma cusparada certeira no rosto de Kamus. Este pareceu perplexo com o atrevimento dela. Já estava pensando em responder aquela ofensa da forma apropriada quando o barulho da campainha pegou os dois de surpresa. Kamus até aliviou a pressão em seus pulsos quando a viu olhar de maneira estranha para a porta. Se soltando de vez, ela levanta o tapete e um pequeno alçapão dizendo em tom baixo:

- Fique em silencio e não saia daí de forma alguma.

Kamus viu o objeto que ela havia retirado dali. Era uma pistola com um silenciador acoplado. Ela engatilhou a arma e foi até a porta sorrateiramente. Apontando diretamente onde estaria o peito de alguma pessoa, ela olhou pelo olho mágico. A cada movimento que a pessoa fazia, a arma seguia por trás da porta:

- Loren? Loren Bryce. Sou sua vizinha do andar de baixo, Stela.

Sasha coloca a arma presa em sua saia por atrás, e abre só um pouquinho a porta ao lembrar-se que conhecia aquele rosto:

- Ah, oi Stela.

- Escutei um barulho de algo se quebrando e queria saber se estava tudo bem. Sei que você quase não fica em casa.

- É que estou muito cansada da viagem e deixei o copo cair. Não se preocupe. Vou agora mesmo pra cama.

- Tem certeza que não precisa de nada, querida?

- Absoluta. Obrigada assim mesmo por perguntar.

Assim que a mulher se foi, Sasha desengatilhou a pistola, guardando-a no mesmo lugar de antes. Tudo sob a supervisão atenta de Kamus que estava já preparado para agir se fosse o caso.

- Acredito que este clima tenso aconteça com freqüência.

- Sempre fui cuidadosa em todos os aspectos. Nunca recebi visitas, então era pra ficar cismada mesmo, principalmente depois... – ela mesma se interrompeu deixando Kamus muito curioso.

- Principalmente depois do quê?

- Esqueça. – tentando mudar de assunto, entrou na coisa que estava fresca em sua mente – Eu não fui pra boate para conhecer Nikolas. Estava apenas descobrindo se eu mataria mais um canalha. Mas dei azar quando fui gentilmente abordada por ele, e quando dançamos. Cheguei a esperar até o ultimo minuto na esperança que o contrato fosse cancelado. Infelizmente tive que matá-lo.

- Matou o cara com quem passou momentos de alegria só por causa de um contrato? O que eu devo esperar de você se alguém mandasse me matar?

- O caso de Nikolas é bem diferente do seu, Kamus. Eu jamais... – Se interrompeu para não revelar aquele sentimento maluco que se apoderava de seu ser – Foi horrível a sensação de ver desapontamento no olhar de Nikolas segundos antes de morrer. Não houve dialogo. Um simples e doloso apertar do gatilho Nikolas já estava no chão com uma bala enterrada entre os olhos. Foi definitivamente a morte mais rápida pela qual fui responsável.

- Você só não contou sobre o policial. Ele merecia morrer também? – perguntou Kamus anotando mentalmente que havia algo mais por trás de todos estes assassinatos.

- Ah, então você sabe também que fui responsável pela morte daquele policial corrupto. Realmente aquele foi o mais estranho trabalho que já peguei. Não havia necessidade nenhuma de simular um suicídio na banheira e um arrombamento ao mesmo tempo. Foi difícil afogar o cara, mas entrar e sair era moleza. Em vez de sair sem deixar um vestígio sequer, tive que quebrar a janela da casa pelo lado de fora. Nenhum assassino que se preze faria algo tão amador assim. É como se aquilo fosse um aviso para alguma pessoa.

Sasha estava pensativa, e Kamus estava horrorizado com tudo que havia escutado. Tinha algo estranho naquilo tudo. Ela não parecia uma assassina que matava por prazer, nem por dinheiro embora tivesse cercada de móveis luxuosos. No entanto, não podia simplesmente deixá-la solta para que matasse mais alguém. Mesmo que essas pessoas merecessem morrer, ela não tinha esse direito. E ainda tinha a questão de que alguém ainda poderia pegá-la. Talvez um de seus companheiros. Não podia permitir que Máscara da Morte ou Shura a pegasse. Não vendo alternativa optou pela única saída mais lógica que existia:

- Depois de todas essas confissões, só há uma coisa que posso fazer. Vou entregá-la a justiça, Sasha. – fitou aquele olhar assombrado dela e continuou em um tom de voz mais brando – Farei o possível para que pague por seus crimes com o mínimo de tempo possível. Talvez pegue apenas três anos.

- Estarei morta antes de chegar a julgamento.

Ao escutar estas palavras Kamus pressentiu que estava certo em acreditar que ela não era tão culpada assim. Como um raio rasgando o céu, uma idéia surgiu-lhe na cabeça:

- Só existem duas possibilidades para você me dizer isso. Você está com um câncer terminal e resolveu fazer justiça com as próprias mãos, ou está sendo ameaçada. Conte-me Sasha, qual das duas opções é a certa?

- Já disse que você não entenderia, Kamus. Tudo o que preciso é concluir com minha ultima missão, e ai sim, me entrego a polícia. Tenho que matar Saori Kido nem que seja a ultima coisa que eu faça.

- Você quer algo difícil de se alcançar. Não faz idéia como isso é absurdo.

- E você não faz idéia de quanto eu posso ser persistente. Nem que eu tenha que recorrer a meios que não fazem meu estilo, conseguirei cumprir com meu contrato.

Ela falava com um sorriso sensual brindando em seus lábios, ao mesmo tempo em que se espreguiçava como uma felina manhosa encima do sofá. Sua saia havia levantado um pouco deixando a mostra a lingerie de renda preta quase transparente. Aquelas pernas bem torneadas completavam o conjunto que tornava a cena sexy e excitante. Muito sexy Kamus teve que admitir. Nem conseguia tirar os olhos daquela parte do corpo dela. O longo suspiro que Sasha deu chamou a atenção do cavaleiro de ouro para seu rosto. Desejava não ter visto aquele olhar de pura malicia para seu baixo ventre. Ela estava provocando, e Kamus sabia disso. A questão é se conseguiria cumprir com seu dever. Não agüentando mais, segurou sua mão, puxando-a para ficar de pé.


Continua...

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